Lembro que conheci Eden na minha adolescência, logo que comecei a ler mangás. Fiquei interessado pela história pelos motivos que muitos adolescentes devem ter ficado na época: sangue, nudez e ação. Infelizmente o mangá foi descontinuado pela editora e assim fiquei sem saber o final daquela obra. Mas agora, em 2015, tenho motivos para comemorar: a editora JBC relança o mangá no país, em uma edição brutalmente caprichada, que trouxe de volta aquele mangá que me saltou os olhos há alguns anos, me apresentou uma obra complexa e apaixonante para o leitor que sou hoje.
Eden apresenta um futuro em que um vírus que tem o terrível efeito de cristalizar a pele humana e necrosar os órgãos internos, liquefazendo-os, chamado Closer, devasta a maior parte da população, levando o instinto de sobrevivência do ser humano aos seus extremos. Agora, esse novo mundo, formado pelos sobreviventes e moribundos, mostra que algumas coisas nunca vão mudar, com novos conflitos aflorando pelo globo, causados pela organização Propater.
São muitas as coisas que eu posso falar sobre essa edição de Eden, todas elogiando essa maravilhosa obra de ficção científica nipônica, portanto vamos começar com a ambientação. Hiroki Endou nos apresenta em seu mangá, um futuro em que a maior parte da humanidade sucumbe à um vírus e aqueles que sobrevivem precisam aprender a se virar em um mundo novo. O conceito da narrativa em cima disso é abordado em dois momentos distintos: o primeiro capítulo que narra os eventos alguns anos após a proliferação do vírus e os seguintes algumas décadas após, mas ambos com as devidas ligações entre si. O enredo é rico em personagens e a trama é complexa e ao mesmo tempo tensa, fazendo com que ela fique mais interessante e deixe o gancho perfeito para nos deixar curiosos pela próxima edição.
Nesse mundo caótico, a humanidade acaba encontrando várias formas de evoluir, e uma das coisas que mais chama a atenção são as pessoas que se tornam híbridas, com vários apêndices eletrônicos que são usados para várias funções, desde armas até sistema de hacker, algo que durante a história tem uma importância significativa. Mas como o mundo sempre será o mesmo em vários aspectos, algumas coisas não mudam e o mangá traz uma série de discussões filosóficas sobre o que faz um ser humano (no melhor estilo Philip K. Dick) e até sobre temas pesados como religião, sexualidade e terrorismo, incluindo vários que são vistos por mais de um ponto de vista na história.
E já que o mangá aborda temas densos como os anteriormente citados, é esperado que ele apresente coisas pesadas em seus quadros, que contam com a arte espetacular do autor. Cenas de sexo e de violência extrema são comuns no mangá, mas o autor tem uma capacidade de criar cenas de ação cinematográficas nos quadros, tornando a leitura dinâmica, mas sem deixar de lado todo o detalhismo das cenas e personagens. Além da sensação de tensão e ação de alguns capítulos, em outros ele traz paisagens onde a natureza retomou a civilização, muito parecido com o que vimos em The Last of Us, trazendo uma sensação de paz e melancolia que acompanha os personagens daquela paisagem que ao mesmo tempo em que é cheia de vida, representa a morte de um mundo como o conhecíamos.
Tudo isso vem na reedição maravilhosa da editora JBC, que segue o mesmo molde do Death Note Black Edition, trazendo dois Tankobon em cada edição, em um tijolo de mais de 400 páginas em um papel de altíssima qualidade. A série que está sendo lançada bimestralmente no Brasil, terá um total de 9 edições nesse formato.
Eden – It’s an endless world foi um mangá que me chamou a atenção por vários motivos quando adolescente, mas que hoje me conquistou por todos os motivos possíveis, desde a sua arte maravilhosa até o seu roteiro denso e provocador, e é com toda a certeza uma das maiores obras do gênero e deve ser sempre lembrada ao lado de clássicos como Akira e Ghost in the Shell, e que agora tem uma edição que faz jus à sua importância.
Nota do Autor: | 10 | ![]() |
Nota do público:(1 voto) | 8 | ![]() |
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